Por Paulo R. Käfer
Saí para correr na praia no final da tarde. Lá pelas tantas, começou a chover. Pensei em voltar, mas o cenário estava perfeito para pensar na vida e resolvi prosseguir.
Apesar do vento e dos pingos gélidos, um inesperado contentamento surgiu de repente! Você procura a alegria, mas não encontra em lugar nenhum. E quando você nem pensa nela, é ela que te encontra. Como são formidáveis esses momentos despretensiosos…
Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. O poeta tem razão!
Que ironia. Estamos ocupados demais procurando pela felicidade em algum lugar do futuro: quando eu conseguir alcançar tal meta, serei feliz! Ou nas lembranças do passado. Até dizemos: eu era feliz e não sabia! Quem nunca?
Não nos damos conta de que a felicidade pode estar bem pertinho. Nas coisas simples da vida, na ponta do nosso nariz, no movimento da respiração, na contemplação de um beija-flor, no olhar afetuoso da pessoa que a gente ama e em todas as maravilhas que só o aqui e agora pode nos presentear. Até na apreciação do encontro da chuva com o mar…
Parece que temos uma propensão em arrumar as coisas fora de nós para ficarmos bem. Por exemplo, se nós estamos um tanto melancólicos, uma ida às compras parece oferecer algum conforto momentâneo. Só parece.
Ou talvez, devorar a nossa sobremesa favorita nos dê uma faísca de prazer e nos tire por alguns segundos de um estado supostamente indesejável.
E nos cobramos, dizendo para nós mesmos: eu sou forte, não posso me dar ao luxo de ficar na “fossa”, cabisbaixo e desanimado. E já pensamos em fazer alguma coisa para conter a torrente de tristeza que chega meio que sem avisar.
Não suportamos ficar com a nossa dor existencial. Precisamos de ação ou de distração. Queremos ajeitar as coisas pelo lado de fora na esperança de amenizar uma suposta sensação de vazio interior.
Pensamos ingenuamente, que se as condições externas estão bem, tudo vai ficar às mil maravilhas pelo lado de dentro. Sim, elas são importantes, mas muitas vezes somos presas fáceis de nossas próprias ilusões e expectativas. E achamos que somos livres…
Afinal de contas, se nós somos prisioneiros da nossa própria mente, não somos livres. Se nós somos arrastados por nossas próprias emoções, não somos livres. Se o medo irracional nos impede de agir, não somos livres. Se precisamos de elogios para nos sentir bem, ainda não somos livres. Se não sabemos quem somos, não somos livres.
Somos ludibriados por nossos próprios anseios. Estamos “acorrentados” àquilo que achamos que está faltando, sem nos darmos conta que podemos estar perseguindo um lindo castelo de cartas, e que mesmo que o encontrarmos, poderá desmoronar a qualquer momento.
E distraídos, não percebemos que a felicidade genuína já habita dentro da gente, mas nem sempre a encontramos porque o nosso foco é procurá-la fora de nós mesmos. Que paradoxo!
Vejamos alguns exemplos.
Poder é algo efêmero. Mesmo que uma pessoa consiga ter algum poder, geralmente demora bastante para conseguir e ela o perderá, mais cedo ou mais tarde. É a dança das cadeiras.
Fama pode até parecer interessante em um primeiro momento. A pessoa pode até dar alguns autógrafos e sentir os holofotes voltados para ela. Mas ser famoso é garantia de felicidade?
Beleza física pode abrir algumas portas e atrair olhares, mas ninguém pode conter a ação do tempo. Sucesso pelo sucesso, sem contribuição significativa, não tem muito valor.
Dinheiro é necessário para a sobrevivência. Mas quando uma pessoa fica totalmente apegada a ele, sofre com receio de perdê-lo. Além disso, depois de um certo patamar mínimo de segurança financeira, mais dinheiro não significa necessariamente mais felicidade. Para o filósofo Arthur Schopenhauer: “a nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos”.
Evidentemente essas coisas têm lá o seu valor, dependendo do contexto. Não dá para negar isso. Mas não precisamos colocar nosso bem-estar na dependência exclusiva de elementos externos. Esse é o ponto! Que possamos encontrar um equilíbrio. Assim a vida fica mais leve.
Sempre é tempo de mudar para melhor, abandonar convicções limitantes, adquirir hábitos mais saudáveis e cultivar uma mente mais serena. Afinal de contas, ser feliz é também uma questão de decisão.
Qual a razão para não nos entregarmos por inteiro naquilo que estamos fazendo, independente de conseguirmos alcançar a meta ou não? Que tal curtirmos um pouco mais o trajeto sem pensar tanto no destino? Por que não rir um pouco mais de nós mesmos e de nossas vulnerabilidades?
O que falta para nos comprometermos mais com a própria alegria de viver? Por que tentar controlar tantas coisas que estão fora do nosso controle? Por que não exercer nosso lado criativo para alegrar e inspirar pessoas, de forma generosa e altruísta?
Paradoxalmente, quando adotamos essa “perspectiva light” da vida, nosso desempenho nas diversas atividades parece melhorar, nos relacionamos melhor com as pessoas e a disposição para encarar os desafios do cotidiano parece aumentar.
E tenho a sensação de que somos mais felizes quando nos movemos despretensiosamente com a mente receptiva e o coração pacífico.
Dessa forma, nossa jornada vai se tornando mais interessante e harmoniosa. Nossa existência mais agradável. E quem sabe não precisamos mais procurar pela felicidade. É ela que vem ao nosso encontro. Essa é a ideia.
Agradeço sinceramente a sua visita aqui no blog, grande abraço, paz na mente e até o próximo texto.
Paulo R. Käfer
Diretor e Facilitador da MKaPlus, empresa especializada em ajudar instrutores e facilitadores a terem alta performance e realizarem treinamentos fantásticos. Tem mais de 11 anos de experiências em treinamentos empresariais e é Instrutor da Formação de Multiplicadores – Facilitador Coach ©, com dezenas de turmas realizadas pelo Brasil.
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Pessoas Iluminadas, Deus os proteja, a cada texto que leio, uma descoberta interior.
Gratidão!
Proteção Divina!
Joelma Bárbara
Muitíssimo obrigado pelas palavras, Joelma.
Muita paz e felicidade para você.
Excelente texto!!!