Por Paulo R. Käfer
Cara leitora. Caro leitor.
Imagine a seguinte cena fictícia: uma pessoa está em uma festa. Vamos chamá-la de Brian.
O lugar é lindíssimo. Um amigo dele o convidou e lá está ele, cercado de pessoas desconhecidas, a maioria fazendo pose, com aquele papinho clichê e pretensioso, tentando convencer umas às outras de que elas são o máximo.
Elas não param de falar de si mesmas, dos seus feitos, das suas maravilhosas experiências em lugares magníficos e Brian já cansado de tanta superficialidade, gentilmente pede licença, levanta e vai até o jardim pegar um ar.
Enquanto contempla o gramado bem cuidado, ele ouve uma bonita voz:
– Oi! Festa entediante, não?
Então ele olha para o lado e vê dois encantadores olhos e logo abaixo deles, um sorriso natural, despretensioso e bem diferente daqueles sorrisos forçados que estavam sendo distribuídos na festa. Vamos chamá-la de Meg.
Brian sorri e diz:
– Pra caramba! Você também percebeu?
Eles começam a rir e um longo silêncio se estabelece. Durante aquele silêncio, Brian nota direitinho que houve uma perfeita conexão. Para ele, a festa que estava maçante, agora começava a ficar interessante…
Começaram a trocar ideias. Durante a conversa, parecia não haver a necessidade de muitas palavras. Mas quando elas eram usadas por Brian, ele sentia que Meg lhe escutava com o coração, com a mente, com a alma. E com aquele sorriso doce. E com aqueles olhos serenos.
Meg não interrompe, não fala dela sem ser solicitada, nem faz Brian se sentir julgado.
A conversa flui tão suave, leve e harmônica como se Brian e Meg estivessem patinando no gelo, impulsionados por uma agradável música de fundo.
Então aqueles dois seres humanos, trocando ideias no gramado de uma casa de sonhos, em meio a uma festa entediante e sob um esplêndido teto de estrelas reluzentes, claramente entram em uma sublime sintonia.
E no meio daquele belo diálogo, olhando para o deslumbrante céu estrelado, um pensamento ocorre a Brian: “que pessoa interessante”!
Acredito que muita gente já se perguntou…
Como posso ser uma pessoa mais interessante?
E ao contrário, seria um absurdo alguém desejar ser um chato, um verdadeiro mala sem alça.
Há muitas maneiras de se tornar uma pessoa interessante e certamente também há inúmeros jeitos de ser inoportunamente inconveniente.
Acho que uma pessoa se torna interessante na medida que ela oferece autêntica atenção ao outro, sem ficar perdida nos próprios devaneios. Esse é o ponto.
E ironicamente, por falta de empatia, a pessoa que gosta de se vangloriar pode causar um certo aborrecimento em seus interlocutores e nem perceber. Na tentativa de impressionar os outros, ela pode inclusive pensar que está “arrasando”.
A raridade que chama a atenção
Raro é encontrar pessoas que ouvem sem pressa o que o outro está dizendo, com quietude interna, de maneira tranquila e atenta e que esperam naturalmente a sua vez de falar.
Elas não ficam pensando no que vão dizer enquanto a gente se expressa, não interrompem nossa fala e nem ficam gritando em nossos ouvidos na tentativa de monopolizar a conversa. Tampouco ficam checando mensagens no celular enquanto estamos tentando verbalizar.
Em geral, pessoas interessantes são atenciosas. Talvez por isso esbanjam tanto carisma.
Saber dar atenção às pessoas é sinal de elegância, de empatia, é exemplo de boa educação e sofisticação. E esta prática está ficando cada vez mais singular. E justamente por isso, chama mais atenção. Pelo menos a atenção de quem tem um mínimo de sensibilidade para perceber…
Já falar pelos cotovelos, discorrer sobre quase tudo, dar conselhos não solicitados, contar histórias intermináveis, dar voltas e voltas em seus devaneios de modo prolixo e desestruturado e não abrir espaço para o outro se manifestar é meio caminho para se tornar impertinente. Ou o caminho inteiro. Sei lá.
Se uma pessoa não possuir o hábito de cultivar o silêncio interior, pode perder a clareza mental e despejar no diálogo, opiniões vagas e não raro, julgamentos apressados e críticas com pouco fundamento. Pode acabar transformando o emaranhado de pensamentos desgovernados em palavras rudes, que podem magoar e causar muitos conflitos.
Claro que saber falar bem, se comunicar de modo consciente é também outra excelente maneira de se tornar uma pessoa interessante. Mas isso é bem diferente de abarrotar os diálogos com superficialidades, banalidades, fofocas, maldizeres, resmungos e todo tipo de supérfluos verbais.
Para o filósofo Platão, “o sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa”.
Silenciando por dentro
Estamos de fato, prestando atenção ao que outro diz ou estamos imersos em nossos próprios pensamentos e preocupações?
Quantos são, dentre nós, aqueles que buscam compreender o outro no mundo dele?
Há um provérbio Oriental que diz: “O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute”.
Para dar real atenção ao outro, é necessário silenciar por dentro. Ao diminuir a tagarelice da mente, escutaremos com mais presença.
Eu sei, nem sempre é fácil. Não é mesmo! Mas quando nos empenhamos para entrar nesse nível de atenção, a empatia emerge. Assim podemos ficar mais interessantes aos olhos de quem interage conosco.
Afinal de contas, estamos sendo pessoas verdadeiramente interessantes, quando nossa atenção está vagueando sem rumo durante um diálogo?
Um ato de doação
Dar atenção a quem quer que seja requer generosidade. Quando alguém me escuta de verdade e presta atenção ao que estou dizendo, me sinto presenteado. Ganhar a atenção de alguém é receber um presente mais do que valioso. É um tremendo afago na alma.
Então, ao que parece, na medida que fortalecemos nossa atenção, poderemos nos tornar uma pessoa mais interessante para as pessoas e para nós mesmos também.
Afinal de contas, podemos esquecer facilmente das pessoas que são indiferentes a nós ou daquelas que adoram elogiar a si mesmas. Mas as pessoas que nos deram atenção autêntica e que nos compreenderam na essência, podem ocupar um espaço privilegiado em nossa memória. “Brian” que o diga…
Espero ter contribuído de alguma forma com essas reflexões. Agradeço sinceramente a sua visita aqui no blog, grande abraço, paz na mente e até o próximo texto. 🙂
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Prezado Paulo
Excelente texto
Gratidão!
Joelma
Obrigado, Joelma.
Que bom que você gostou do texto.
Paulo, boa tarde! Interessante esse artigo, parabens!
Olá, Allan.
Obrigado por comentar.
Treino e Discernimento ajudam a ter esta virtude!
Parabens Paulo!
Lembro todos os dias da conexao perfeita que seus dialogos me atingiram.
Voce realmente e uma pessoa muito interessante.
Grande abraco
Com treino e discernimento, realmente vamos longe, no caminho da evolução pessoal.
Gratidão pelas palavras, Rita. Você é muito gentil.
Saudades.
Grande abraço.
Paulo, meu xará, boa tarde!
Antes e acima de tudo felicito-o pelo cuidado e esmero na elaboração do texto que acabo de ler. Conseguiu ser cartesiano e de modo simples, objetivo e direto. Não fui capaz de identificar a ligação a um principio filosófico ao qual você e sua esposa estejam ligados ( na verdade de pouca relevância). Sinto na dupla muito da linha de pensamento de Carl R. Rogers, autor de “Tornar-se Pessoa”, obra interessante para quem tem a tarefa de trabalhar COM e PARA o homem e no desenvolvimento de sua personalidade. Uma vez mais, parabéns!
Textos excelentes e inspiradores. Acalma a alma.