Por Paulo R. Käfer
Cara Leitora. Caro Leitor.
Facilitar um processo de aprendizagem em grupo é um grande desafio. Requer muita experiência, conhecimento e boa capacidade de expressar-se, sem dúvida. Envolve arte e ciência. Método e intuição. Lógica e emoção. Tudo na medida certa.
Além de transmitir conhecimento, o Facilitador de alto desempenho procura despertar o melhor nas pessoas e criar condições para que haja cocriação de saberes. Assim, cada participante sente-se convidado a participar ativamente, pensar por si mesmo e acessar sua sabedoria interior. E não apenas ouvir os ensinamentos do Instrutor.
Essa abordagem permite a geração de insights que sejam significativos para os participantes. E uma vez significativos, podem ser colocados em ação após o encontro.
Mas que atributos são necessários para conduzir um grupo com maestria e ser um agente catalisador do aprendizado?
A partir da minha experiência trabalhando muitos anos com treinamentos empresariais eu diria: todos possíveis, tendo em vista a complexidade que é conduzir um grupo de pessoas rumo à aprendizagem transformacional.
Mas quais os cruciais? Quais são aqueles atributos que tornam um Facilitador extraordinário?
Nesse texto, vou dar ênfase a três atributos. Obviamente não são os únicos, mas são atributos dos quais derivam muitos outros.
Saber conversar
Parece fácil, mas nem tanto. Uma coisa é bater-bapo sem compromisso ou jogar conversa fora. Outra bem diferente é saber estruturar e conduzir uma troca de ideias de forma efetiva.
Saber conversar nesse sentido pressupõe:
# Ouvir com atenção, presença e empatia, sem pensar no que vai responder em seguida;
# Demonstrar interesse e respeito genuíno pelo participante e por suas ideias, independente se concordamos ou não;
# Perguntar e esperar a resposta sem revelar sinais de impaciência e irritação, nem ficar com medo do silêncio. Acredite, o silêncio é fundamental em processos de aprendizagem que culminam em mudança e transformação;
# Realizar pausas para reflexões conscientes ao invés de falar sem pensar o que vier na cabeça, de modo impulsivo;
# Evitar julgamentos e conclusões precipitadas;
# Manter o foco no propósito de mudança. Ou seja, ficar atento e alerta para que não haja dispersão das ideias.
Se por ventura, o Facilitador não dominar a arte da conversa profundamente, ele pode facilmente se afastar do diálogo que leva ao aprendizado e acabar impulsionando, mesmo de forma não intencional, o debate inútil, vazio e estreito do concordo, discordo ou gosto, não gosto.
Pensamento abrangente
Se o Facilitador não compreender o mundo de forma ampla e sistêmica, suas chances de conduzir um processo transformacional diminuem sensivelmente.
Como facilitadores precisamos ver as relações de interdependência entre as ideias que o grupo gera. Compreender a parte e o todo. Considerar as causas e condições, bem como os efeitos. Ver a árvore e a floresta. Perceber os detalhes e ter uma noção macro do sistema.
Se estamos facilitando um processo de aprendizagem, temos que pensar além das certezas predefinidas e tentar entender os paradoxos, ambiguidades e incertezas com lucidez.
Nas palavras do poeta sufi, Rumi: “Para além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu me encontrarei com você lá”.
O mundo como ele se apresenta é complexo demais para considerarmos apenas um ponto de vista ou uma única versão da realidade. Se fosse assim, não haveria necessidade de reunir um grupo de pessoas. Cada qual ficaria com sua ideia e fim de papo.
Nesse sentido, acolher as múltiplas visões que surgem do grupo é o primeiro passo para uma facilitação de alto nível e holística. Esse é o tipo de facilitação que os novos tempos exigem.
Durante o treinamento ou reunião, há um ponto em que o Facilitador parte para a conclusão ou fechamento de determinado assunto.
É nesse momento que ele, ao considerar vários pontos de vista, pode então elaborar uma síntese e quem sabe, transformar uma troca de ideias em um ou dois pressupostos úteis, relevantes e aplicáveis para todos. Dessa forma, um olhar abrangente ajuda tremendamente.
Uma pergunta para reflexão: o quanto você acolhe e procura compreender visões de mundo diferentes da sua?
Autogestão
A autogestão permite que o Facilitador permaneça centrado e praticamente imperturbável durante o treinamento.
Não podemos controlar as ações dos outros, nem o que dizem e nem como se expressam. A atitude do outro é dele e nesse sentido parece que temos pouco ou nada a fazer a respeito. Mas podemos ter completo e deliberado domínio sobre nós mesmos. Esse é o ponto!
Há um trecho do poema escrito pelo Inglês William Henley, chamado Invictus, que aprecio muito: “Eu sou o mestre do meu destino; eu sou o capitão da minha alma”.
Quando estamos conduzindo um grupo, manter a calma é fundamental. O facilitador que gere a si mesmo, consegue manter o diálogo produtivo em movimento, não se descuida com a coesão do grupo e consegue dar um direcionamento efetivo às ideias geradas pelos participantes.
Acredito que quanto mais sereno e tranquilo estiver o Facilitador, melhor é o movimento em direção à aprendizagem efetiva.
Facilitadores experientes sabem que resistências aos processos de mudança quase sempre aparecerão. E para lidar bem com elas, liderar a si mesmo é crucial.
Assim, causaremos impacto positivo com nossa postura e nossa influência será benéfica para o grupo.
Portanto, buscar o autodomínio, cultivar virtudes elevadas e exercitá-las em nosso cotidiano é condição sine qua non para sermos facilitadores fora de série.
Afinal de contas, temos alto desempenho quando nossa mente, nosso coração e nosso espírito se integram harmoniosamente à nossa ação.
Espero ter contribuído de alguma forma com essas reflexões. Agradeço sinceramente a sua visita aqui no blog, grande abraço, paz na mente e até o próximo texto.
Paulo R. Käfer
Diretor e Facilitador da MKaPlus, empresa especializada em ajudar instrutores e facilitadores a terem alta performance e realizarem treinamentos fantásticos. Tem mais de 11 anos de experiências em treinamentos empresariais e é Instrutor da Formação de Multiplicadores – Facilitador Coach ©, com dezenas de turmas realizadas pelo Brasil.
Mais sobre Paulo.
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Paulo, tudo bem?
Como sempre suas dicas são valiosíssimas e iluminam cada vez mais o meu caminho como Facilitador Coach em todo projeto que estou envolvido!
Obrigado pelo texto, pelos ensinamentos e por compartilhar tanta experiência!
Abraço.
Olá Osmar. Tudo ótimo.
Que bom que os textos são úteis de alguma forma na sua trajetória como Facilitador Coach.
Fico muito feliz com suas palavras.
Sucesso em seus projetos, muita paz e felicidade.
Abraço.
Gosto muito dos seus escritos… Sou consultora de Relações Humanas nas diversas áreas do conhecimento… Empresas diversas, Escolas, Universidades… TRABALHO COM METODOLOGIAS ATIVAS, INTERATIVAS E INTEGRATIVAS, MÉTODO SANDPLAY….
Observando seus escrito, tem tudo haver com as minhas práticas e práxis pedagógicas… Obrigada por você existir e colaborar com tantas pessoas!!!
Um forte abraço,
Prof. Lucila de Noronha – PEDAGOGA, ESPECIALSTA EM EDUCAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA.
Olá Maria.
Que bom que você gosta dos textos.
Muito obrigado pelo comentário, aliás bem inspirador.
Muito sucesso em seu trabalho. Paz e Felicidade.
Abraço.
Olá Paulo! Parabéns pelo excelente artigo! Sou professor e facilitador de grupos em temáticas sobre valores humanos, diversidade e inclusão, especialmente de pessoas com deficiência, pois sendo também deficiente visual, procuro reunir experiência prática e teórica nos cursos e palestras que realizo. Fico feliz de em constatar afinidade de pensamento com você, já que procuro praticar exatamente esses valores na minha atividade profissional. Abraços e mais uma vez, parabéns!
Olá Paulo. Parabéns pelo texto. Excelente como sempre, muito e inspirador e aprendizados.
Abraços.
EXCELENTE